Ergueram-se os apropriagistas, - a fidalguia da classe – melhor
encadernados, de gravata (até corrente de prata, este ou aquele (…) Ergueram-se
os fulistas, figuras de fadiga mais apagadas, pálidas dos vapor tóxico das
fulas, metidos em si mesmos, como que conscientes do rigor da sua
insignificância como membros da classe. (…) E ergueram-se também os do grosso -
os da lã – os mais menos, os párias dos párias, muito inseguros de si,
visivelmente envergonhados entre a mais camaradagem. Desengonçados, pálidos, de
fisionomias fixas, sem vida, sem expressão, mais pareciam figuras de cera num
museu histórico.
CORREIA,
João da Silva. Unhas Negras, S. João da Madeira, 2003, pág. 48
Inspirado num episódio verídico, decorrido na antiga Fábrica Nova,
local onde hoje se encontra o Museu da Chapelaria, a obra “Unhas Negras”
imortaliza e presta homenagem a um dos ofícios que esteve na génese da criação
da identidade sanjoanense, o ofício de chapeleiro.
Na sua obra João da Silva Correia trata das dificuldades e miséria
dos operários chapeleiros e das injustiças de uma sociedade desprovida de
sentido humano e social. Os personagens que vão surgindo personificam, por um
lado, os dramas sociais e as condições precárias de vida como as extensas
famílias, a fome, a doença ou o desamparo na velhice destes operários, mas por
outro, sublinham também a determinação, a tenacidade e o orgulho destes
trabalhadores sanjoanenses.
Este livro encontra-se disponível para venda na loja do Museu da
Chapelaria.
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